Capítulo 16 - 3:33 Num bar
- Uma Vodka dupla com limão num copo redondo e um Blue label puro, por favor.
- Sim Senhor - disse o garçom no balcão do bar.
- A quanto tempo, Hannow, noite ruim?
- Péssima, diria eu.
- Pra você não é nada menos que o merecido, e você já está cansado de saber disso...
- É eu sei - Disse Hannow dando um grande gole na vodka.- E como andam os negócios?
- Fluindo eternamente, mudando o estilo a roupagem mas no fim é sempre a mesma coisa, grana, mulheres, festa sabedoria... ego.
- Parece patético quando você diz, sabia?
- Vocês todos são patéticos, não esqueça de como você entrou nisso...
- É eu sei... - Diz Hannow sacudindo o limão no copo.
- Já se perguntou de quem é a culpa disso?
- Nossa? De Deus? das religiões, da sociedade? Não importa... a culpa sempre foi nossa, sempre é, e sempre encontraremos em quem botar a culpa.
- Exatamente, jovem, exatamente... E quem sofre mais? Quem sabe disso ou os que acreditam que no fim serão salvos?
- Ambos sofrem, ambos bebem, a culpa está presente em ambos a única diferença é como cada um encara, uns choram por alguma vadia, choram por causa de emprego outros choram por causa de bifes e ovos que não fecundaram, no fim tudo o que todos tem certeza de ter é a culpa...
- A culpa de existir, claro.
- Não, a culpa de não aceitar isso.
- Por essa eu não esperava, Hannow. Hoje você parece mais miserável que o normal.
- Valeu, mãe, acabou o sermão?- Diz Hannow esboçando um leve sorriso enquanto beberica a vodka.
- Sarcasmo é um mecanismo de defesa poderoso, sabia?
- Sim, os dementes não entendem. Nossa, agora estou protegido, obrigado pela informação.
- Um demente decidido é pior que uma arma na mão de um sarcástico...
- E um poeta bêbado é mais chato que um paulista...
- E por que estamos nesse bar hoje?
- Porque eu preciso conversar...
- Tenho cara de psicólogo agora, Hannow?
- Não sei, ultimamente não tenho mandado bem em julgar caráter...
- Vocês nunca foram bons nisso... olha quem é o Papa...
- Bingo! Olha só o Papa...
- E Então, qual é o real motivo?
- Gostaria de saber se seus serviços andam sendo requisitados, e por quem.
- E você acha que eu vou falar assim de graça?
- Beba a sua bebida.
- Você sabe como me agradar, tenho que admitir...
- Quem não agrada a Cristo...
- Poderia não falar esse nome perto de mim?
- Desculpe, não quis ofender.
- Não ofende, mas atrai gente desnecessária.
- Às 3 da manhã num bar? acho difícil...
- Pobre Hannow, não sabe da missa o terço...
- Não sabia que você podia usar esse tipo de trocadilho.
- Você não sabe de muita coisa...
- Ok, minha informação?
- Te contarei, desde que você prometa que eles ainda me serão úteis.
- Juro por Deus. - Diz Hannow matando a Vodka.
Alguns minutos depois Hannow joga algum dinheiro no balcão e parte, o garçom estranha o copo de vodka vazio e o de Whisky cheio, mas prefere não dizer nada. Enquanto limpa o balcão, acidentalmente o copo de whisky rola e se espatifa no chão.
Hannow da rua consegue ouvir o som dos cacos de vidro se espalhando pelo chão, ele puxa do bolso um cigarro e acende devagar, olha pro céu e diz:
- Espero que eles não levem pro lado pessoal.
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