Capítulo 22 - Hora de fechar
"Uma tulipa de Chopp e uma dose de vodca, Hannow estava novamente sentado naquele bar, era sexta feira pessoas iam e vinham em todas as direções, o barulho era uma mistura de conversa, música e gargalhadas, era uma sexta feira normal, parecia até um momento normal na vida dele não fosse pelos eventos de algumas horas atrás..."
Algumas horas antes:
- Tenho que admitir, rapaz... Você é mais cabeça dura do que eu imaginava.- Dizia Hannow enxugando o sangue das mãos com um trapo velho.- Não que me impressione, afinal você deve ter sido treinado pra coisas assim na sua ordem, mas acreditei que sabendo que você não veria o próximo amanhecer eu teria menos trabalho.
à frente de Hannow o corpo do tatuado permanece amarrado na cadeira, ou ao menos o que sobrou dele, lhe faltam 3 dedos de uma mão e a outra parece totalmente esmagada, as pernas foram cravejadas com longos pregos e o homem apresenta variados tipos de feridas por todo o corpo.
-Vai pro in...ferno..- Balbucia o homem na cadeira.
-Vejo que ainda está bem consciente, realmente meu coquetel estimulante funciona, então vamos partir para o 3º round.
No Bar:
Hannow dá uma tragada longa e cansada no cigarro, a placa à sua frente deixa bem claro que é proibido fumar naquele local mas ninguém parece percebê-lo mesmo estando a 2 palmos de distância do barman, Hannow está perdido em seus pensamentos, esses que são interrompidos por uma voz feminina.
- Poderia me arrumar fogo?
Como que saído de um transe Hannow olha para o lado para fitar seu empecilho, é uma mulher alta de cabelos longos e vermelhos, ela veste um vestido preto que destaca bem a sua pele extremamente branca, ela segura um Malboro na mão e sorri casualmente esperando uma resposta.
-Oh, sim, claro.- Ele estende o isqueiro dourado em direção ao cigarro da moça, que automaticamente é repreendida pelo barman com um severo "Não pode fumar aqui!"- Ela esnoba o funcionário e diz que está apenas acendendo e ira sair do balcão.
Infelizmente Hannow também foi alertado ao puxar seu centésimo cigarro do dia, o que lhe obrigou a ir em direção à porta do estabelecimento para continuar sua linha de raciocínio.
Algumas horas antes:
-Primeiro round eu brinquei com seus dedos e mãos, e vimos o resultado, segundo round eu enfeitei suas pernas e você quase colaborou, chegamos agora ao terceiro round, adivinha onde vou brincar?
-Fo...da...se.-O tatuado solto em meio ao choro.
-Que falta de educação, e não entendo o por quê disso... Eu não tenho nada contra você, eu nem sei o seu nome, mas você sabe o meu e foi você quem decidiu me atacar, ou seja se você está sentado nessa cadeira com uns 60% do corpo mutilado é apenas o fruto de suas decisões ruins e você deveria estar culpando a si mesmo ou ao Deus que você acredita, afinal eu sou apenas uma ferramenta dele cumprindo o que você chama de destino.
Hannow pega um gancho de metal enferrujado grande e grosso, provavelmente um gancho para pendurar carnes em açougues, analisa a ferramenta e parte em direção da cadeira.
-Bom, como você não me deixou terminar eu vou te dizer, o terceiro round é o último, fim de luta da sua luta, logo eu vou mecher com algumas partes suas que não vão crescer mais e se eu usar uma ferramenta inapropriada você... bom você sabe, por isso escolhi esse semi cirúrgico gancho de açougue, então antes que eu comece vou lhe fazer uma simples pergunta e espero que você responda.
No Bar:
Hannow está agora de pé encostado no muro do bar, a rua parece ainda mais cheia que o interior, o barulho distrai um pouco os pensamentos, e talvez seja isso que ele precise, parar de pensar. Ao lado dele está a mulher de cabelos vermelhos, ela fuma de forma inquieta, como se esperasse algo apesar de manter certa classe, mas isso não impede que Hannow pense no que havia acontecido, no que tinha feito e se era realmente a única opção, e se fosse errado?
- É uma droga né? - Diz a mulher ao lado de Hannow.
-Como?- Responde Hannow meio atordoado.
-Essas leis de impedimento...
Hannow sorri, e responde positivamente com a cabeça, percebera agora a quanto tempo ele não conversava com alguém normal e que não quisesse matá-lo, ele obviamente estava enferrujado nisso.
-Posso te pagar uma bebida?- Ele lança para a mulher.
Ela por sua vez sorri enquanto apaga o cigarro e acompanha Hannow para dentro do bar.
Algumas horas antes.
-Quem te falou sobre mim, e quem tá vendendo esses merdinhas pra entidade de verdade?- Hannow berra enquanto aplica uma estocada com o gancho no ombro do tatuado que urra de dor.
-Eu não sei!!! Eu não sei o nome dele!! Ele é que me procurou!!
- Parceirinho, eu não vou ficar satisfeito com essa resposta.- Hannow deixa o gancho pendurado nas costas do homem e busca outro na mesa.- Você vai parecer uma almofada de alfinetes se continuarmos nesse ritmo então vou começar a ser incisivo... você gosta desse olho que te restou?
O tatuado treme da cabeça aos pés, ele chacoalha na cadeira ferindo ainda mais os braços e pernas, e chora e implora para que Hannow pare... em vão claro.
- Quem tá fazendo isso? Quem ta matando a molecada pra trazer os bichos pra esse plano?
O Tatuado pára por um segundo.
- Ok, acho que essa informação vai ser útil, mas eu juro que é tudo que eu sei, eu te conto e você me deixa ir.
-Fechado.- Diz Hannow puxando uma cadeira à frente do tatuado e acendendo um cigarro.
No Bar:
-Então, senhor cavalheiro de cara fechada, o que você faz da vida além de acender cigarros e embebedar mulheres?- Diz descontraída a mulher sentada ao lado de Hannow.
- Trabalho com informações e migração.
- Hum, então trabalha pro governo?
-Pode-se dizer que sim.
-Eu trabalho com importação, trago antiguidades de todo lugar pra cá.
- Interessante, que tipo de antiguidade.- Completa Hannow percebendo estar mostrando pouco interesse na conversa.
- Todo tipo, quando o local que elas estão não é seguro eu as trago pra cá e fico de olho nelas.- Diz ela sorrindo e virando uma dose de tequila.
A conversa é interrompida pelo plantão televisivo que passa na TV, por já ser muito tarde era incomum que notícias sem muita importância interrompessem a programação logo alguém pediu para aumentar o volume.
Algumas horas antes:
-Então, isso é tudo que eu sei. Ele traz as entidades pra cá através de um ritual que abre um poço, nem sempre funciona porque a entidade não se aloja bem no corpo do invocador e se suicida assim como você viu no apartamento, mas mais da metade das tentativas funcionam e ao que sei isso já tem sido feito a tempos.- Termina o tatuado entre uma arfada e outra.
-Nomes, imbecil, eu quero nomes!- Berra Hannow nervoso.
- Eu não sei o nome dele, só sei como o chamam...- O Tatuado faz uma pausa como se soubesse que iria cometer um grande erro.
- O Vermelho.
Hannow gela ao ouvir aquela palavra, o gancho caí no chão fazendo um estalo metálico ecoar por todo o galpão, depois veio o silêncio que durou alguns minutos mas foi interrompido pelo tatuado.
- Agora você me solta?
No bar:
Todos os olhos fixos na televisão, a notícia fala que a polícia encontrou um corpo mutilado em algum lugar na zona oeste do Rio, as cenas eram fortes, pregos, cerrotes, parafusos, arames, ganchos dentre outras coisas foram utilizadas para deformar o cadáver de tal forma que demorava-se para perceber que era uma pessoa.
Pessoas gostam de ver desgraça, pensava Hannow o único que provavelmente não estava olhando para a notícia porém para seu engano ao fitar a mulher à sua frente percebeu que ela não olhava para a direção que todos olhavam, ela inclinava corpo em direção a Hannow com os olhos semi abertos e deu-lhe um beijo súbito.
Hannow não esperava aquilo, não tão rápido, mas correspondeu e depois de um longo beijo a notícia já tinha acabado e as pessoas tinham voltado às suas músicas, conversas e risadas.
A mulher de cabelo vermelho volta à sua posição inicial e encara Hannow.
- O que foi?- Pergunta Hannow ainda tonto do beijo surpresa.
- Você é ruim para os negócios.
- Como?- Hannow solta meio grogue percebendo que sua visão está embaçada.
- Bons sonhos Hannow...- Diz a mulher enquanto levanta do banco.
Algo desliga na mente dele, tudo fica preto.
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