Capítulo 24 - Hora do show
"Muita gente nem acreditava que aquele tipo de local pudesse existir, achavam que era apenas criação da mente dos perturbados, drogados e anestesiados que viviam e morriam em seus leitos, podia-se até deduzir que alguns não queriam aceitar que um lugar daqueles existia"
Porque ele se tornaria um pesadelo quase eterno quando o que chamamos de vida acabasse, não era um castigo justo pra ninguém, era apenas uma consequência de se morrer no lugar errado era algo natural como respirar ou envelhecer, era inevitável para alguns, aquele local inteiro era maldito e quanto mais hóspedes ele enlouquecia maior era a eficácia de sua tortura, e lá estava Hannow.
Os passos lentos poderiam representar calma mas naquele lugar nenhum movimento brusco passaria despercebido e Hannow sabia disso, não era a primeira vez que visitava aquele hospital, muito pelo contrário, durante uma época de sua vida ele acreditou que o seu destino seria entre aquelas paredes encardidas e mofadas, além de morrer o apodrecimento da alma naquele lugar seria certo mas ele era jovem naquela época não devia ter mais que seus 17, hoje ele era adulto e depois de centenas de visitas àquele local ele sabia que seu destino no pós vida seria bem mais brutal e perturbador.
O hospital nunca teve um nome, nunca teve referências corretas, Hannow gostava de teorizar sobre aquele local, ele entre uma dose e outra dizia que aquele seria o produto de vários hospitais malditos, toda a dor e agonia gerada numa área era atraída por aquele local que não devia ser comparado a um hospital mas a um banco, um banco de pura dor e desespero. Hannow foi parar ali pela primeira vez acidentalmente enquanto tentava refinar suas técnicas de projeção para algum inferno, uma bela noite parece ter errado de endereço e ido parar naquele lugar, à primeira vista não se diferia muito dos locais que Hannow frequentava no astral, muito sujo, muito velho, muito frio... A principal diferença era se tratar de apenas uma estrutura, tão mórfica quanto a mente conseguiria aceitar e tão impossível de se sair como o pior dos labirintos, Hannow levara anos para aprender como aquele local se comportava e o que funcionava ou não ali, e ainda assim ele sabia que o maior problema não era a falta de lógica, o aprisionamento ou sua energia sendo drenada de todas as formas, perigoso mesmo seria esbarrar com algum dos moradores dali.
Hannow já conhecera todo tipo de entidade e quase nada parecia tão grotesco pra sua mente já baleada porém o tipo que se encontrava naquele lugar desafiava a razão por um simples motivo, eles não pertenciam ao plano físico e nem ao astral, eram uma espécie de híbrido que obrigava a sua mente a tentar posicionar aquilo em algum padrão e isso não era tão simples de se fazer. Por ser uma anomalia astral aquele lugar drenava energia tanto de ambos os planos e
era essa que alimentava os residentes dali que por sua vez eram torturadas pela construção pra gerarem mais energia para que essa permanecesse na divisa dos planos, era um local que não devia existir, não se tem explicação pra isso e a utilidade de um local desses era apenas de gerar bons pesadelos pros viajantes do astral desavisados ou aos moribundos em leitos dos hospitais próximo, era esse o tipo de incauto que Hannow esbarrava por lá, não que eles durassem muito ali mas ainda eram melhores que os verdadeiros hóspedes.
Depois de descer a escada Hannow se depara com o largo e típico corredor de hospital, porém esse está imundo com todo o tipo de lixo espalhado pelos cantos, macas e lençóis encardidos criam montanhas de poeira que poderiam habitar famílias inteiras de ratazanas, obviamente não existe nenhuma iluminação aparente e Hannow só enxerga as bordas energéticas dos objetos com sua terceira visão, em meio a essa podridão ele percebe os primeiros viajantes chorando nos cantos do corredor, eles parecem ser do tipo moribundo de hospital pois usam camisolas azuis e identificadores no braço, todos aparentam ser bem magros e doentes, o que impede Hannow de identificar a quanto tempo eles podem estar lá, porém sem enxergar, por não ter treinamento espiritual, aquelas pobres almas estão presas num breu perpétuo apenas sendo interrompidas quando alguma entidade decide importuná-las, é algo bem triste de se ver, aqueles pessoas adultas chorando e rastejando pela sujeira tentando se apoiar inutilmente nas paredes, Hannow desvia das 4 ou 5 que encontra e segue em frente, uma coisa era certa se já havia encontrado pacientes com certeza haveriam entidades por ali, elas adoravam se divertir derrubando os moribundos e sussurrando nos ouvidos deles... eles até que eram bonzinhos.
Um som familiar faz Hannow deixar seus pensamentos um pouco de lado, o ranger de uma porta devagar e irritante faz com que ele sinta arrepios, era um som simples e normalmente não muito importante, se ele se manifestou na mente de Hannow das duas uma, ou era mais importante do que ele achava ou uma entidade com energia de sobra estava querendo criar uma situação com todos os detalhes para que Hannow soubesse o que estava por vir. Hannow se vira pra encarar o anfitrião, a cena é tão detestável que por um instante o ar saltou de seus pulmões, algo preocupante já que ele não devia estar respirando ali, afinal seu corpo não estava presente e isso só queria dizer uma coisa... A entidade ia gastar uma boa quantidade de energia pra garantir que Hannow sentisse MUITA dor física.
A imagem à sua frente era repugnante, Hannow esperava só encontrar aquele tipo de entidade em livros medievalistas mas em locais como aquele ele já esbarrara com uns dois ou três, felizmente nunca simultaneamente afinal um já era causa de muita esfolação... Aquele bicho tinha nome, dependendo de onde você ouvia falar dele, claro, ele era conhecido por comer carne de homem, sua pele era toda preta e tinha cabelos pútridos e esbranquiçados que arrastavam no chão, algumas mechas grudavam no sangue seco que ele carregava em várias partes do seu corpo, mas o que realmente tornava aquele bicho bizarro não era o seu tamanho mas sim poder ver por debaixo de sua pele negra a agonia de suas últimas refeições, rostos tentando rasgar sua pele de dentro pra fora, rostos tentando gritar em vão, inaudíveis, rezava a lenda que eles eram todos aqueles que estavam tendo sonhos claustrofóbicos, que na verdade estavam dentro do estômago do bicho, Hannow não acreditava nisso mas agora pensava que pra ter tanta energia sobrando pra criar aquele teatrinho dos horrores seriam necessárias centenas de almas em agonia o que começava a confirmar a história sobre a entidade.
O bicho andava em direção à Hannow com seu passo manco, suas pernas eram desproporcionais e atarracadas, o rosto coberto pelos imundos cabelos soltava arfadas de ar enquanto cantava uma canção macabra, lembravam gemidos de um velho e por vezes ficava tão fina quanto o choro de um recém nascido, se havia alguma letra ou sentido naquilo Hannow não conseguia identificar, as mãos da entidade eram absurdamente grandes e ele as usava pra apoiar nas paredes do corredor derrubando azulejos a cada passo, a massa de almas em seu ventre o transformava em algo parecido com um saco de vermes mas era estranhamente hipnótico e Hannow demorou a perceber a enorme boca do bicho a meio palmo de seu rosto...
- Droga. - Sussurra Hannow fechando os olhos.
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