Capítulo 21 – Dor é psicológico

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“Ele me matou, eu não sinto nada... eu cheguei finalmente onde me foi prometido, me sinto são e acordado, sinto que posso ficar aqui pra sempre... pra sempre...”

A linda morena troca as ataduras do braço de Hannow, o pedaço de carne que lhe foi arrancado vai gerar uma cicatriz horrenda, mas ele sabia que aquele souvenir não era nada comparado com o que estaria por vir, ele nem sabia se podia realmente sair vivo dessa... Ele via a cara de aflição no rosto dela, sua amiga, enfermeira e ex amante.

- Adestrando cães de guarda de novo, Hannow?- Perguntava ela tentando amenizar a situação.

-Velociraptors...- Diz Hannow sem dar muita importância e enfiando um esparadrapo na bandagem.- Trouxe o que te pedi?

- Sim, está tudo na sacola verde.- Responde a morena percebendo que não teria nenhuma explicação do que causara aquele estrago no braço de seu amigo.

- Melhor você voltar pra sua família agora, agradeço por ter vindo tão rápido.

A morena sai da velha estação de trem abandonada, um lugar cinza e coberto por trepadeiras secas, próximo à uma instalação militar pouco usada, talvez uma velha área de pouso ou um pasto de cavalaria, ela não sabia bem o que era, só sabia que era feio e afastado, ninguém lhe prestaria ajuda naquele lugar, ninguém a veria ser assaltada, estuprada ou morta, era um lugar esquecido por todos... Ela então entendeu o estranho pedido de Hannow....

Era um grande galpão, nele trilhos velhos e enferrujados enfeitavam o chão, grandes lâmpadas penduradas a alturas de mais de 5 metros pendiam no teto, todas queimadas, empoeiradas e sinistras, a iluminação era feita por lampiões elétricos e algumas velas essas que iluminavam não só o velho galpão mas também uma figura sinistra e ensanguentada amarrada à uma cadeira, poderia ser dada como morta se não estivesse soltando pequenos choramingos e frases desconexas como “estou morto..” ou “nada disso é real”... Hannow parecia ocupado, dissolvendo pequenas quantias de pó em colheres velhas se utilizando da chama das velas.

O ar está frio, a noite densa porém o céu azul marinho pode ser visto pelos grandes buracos no telhado do galpão, e por um momento a luz de uma lua cheia invade a área iluminando a vítima amarrada, ela olha pra cima.

- Estou morto, pai? – As palavras saem difíceis, pode-se perceber cortes profundos no rosto do anteriormente arrogante tatuado, falta-lhe um grande pedaço do globo ocular esquerdo.

- Morto? Não, rapaz vocês está bem vivo, ou quase isso. – Diz Hannow enquanto injeta pela terceira vez algo no braço do tatuado.

- Você... O que você ta fazendo comigo?

- Me prevenindo, tenho perguntas muito importantes pra fazer pra você e não vou querer que você saia do corpo numa projeção, ou entre em transe e vá sonhar com um arco-íris feito de pudim enquanto eu enfio um garfo no seu ouvido, não é? Então encomendei alguns estimulantes pra te deixar ligadão e desconcentrado por algumas horas, ou dias, vai saber, nunca fui bom em química mesmo...

Ao terminar o comentário Hannow joga a última seringa no lixo, o tatuado que antes parecia estar quase dormindo agora apresentava um estado de euforia, suas pupilas estavam dilatadas e ele apresentava pequenos espasmos, sua respiração era rápida e desritmada, em meio ao sangue seco que estampava quase toda a superfície da sua pele pequenas gotas de suor escorriam em bicas.

- Vejo que exagerei um pouco na dose, mas sabe como é não deve existir dose exata para uma mistura que tenha, entre outros elementos, cafeína, adrenalina e anfetamina... percebo que você está ansioso pra conversar.

O tatuado que não tinha demonstrado nenhum sinal de alteração até então começa a tremer, seu rosto claramente esboça medo, suas feições de choro não escapam da dose cavalar que corria em suas veias, suas pernas tremem enquanto sangue pinga dos cortes que são feitos pelos arames que o prendem à cadeira... Aquilo era o fim.

Hannow segue em direção a uma longa mesa de madeira, velha e empoeirada, durante algum minutos ele parece escolher algo e logo se vira tendo em mãos um serrote velho e enferrujado, ele dobra o serrote para ter certeza de sua capacidade de corte e o joga no colo do tatuado, esse mantém seus olhos vidrados na peça de carpintaria. E Hannow diz:

- Eu vou te fazer uma pergunta, você tem duas escolhas: Ou você me responde e eu passo para a próxima ou você me irrita e nunca mais vai dançar o tango...

O tatuado arregala ainda mais os olhos, Hannow sorri e acende um cigarro soltando para cima uma longa baforada, tirando o serrote do colo do tatuado ele posiciona o cigarro no canto da boa e diz:

- Vamos começar...

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