Capítulo 3 - A Busca

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Nem bem saía de casa e uma pontada aguda na cabeça mostrava a Hannow que sua atitude confiante e desrespeitosa havia gerado sequelas, mas a pressa não lhe dava tempo dos pormenores, percebia que não comia nada desde que acordara... “Isso é um dos pormenores” pensou enquanto continuava a seguir seu rumo naquela noite quente. Pega um ônibus vazio senta num canto e parece se perder em pensamentos sente os olhos pesarem, a cabeça ainda dói e o estômago parece querer derreter dentro dele, mas nada daquilo estava na cabeça dele, mas aquela maldita foto que volta e meia ele averiguava se ainda estava na memória do celular, e pra sua infelicidade ela sempre estava lá deixando bem claro que apesar de morto de cansaço se ele dormisse poderia ser pior que ter as duas pernas quebradas...
Descendo do ônibus ele anda alguns quarteirões feios e mal iluminados e pára em frente a um boteco encardido e semi fechado, chega ao balcão e pede secamente:
- Me dá duas garrafas do que você tiver de mais forte ai.
Detrás do balcão um homem gordo e tão feio quanto o próprio boteco responde rispidamente:
- Não vendemos garrafa, só dose.
Enfiando a mão na carteira e pegando alguns trocados Hannow os joga em cima do balcão olha calmo e profundamente nos olhos do velho, o clima parece ficar tenso a temperatura do ambiente parece esfriar, uma rápida queda de luz típica de estabelecimentos velhos acompanha o enredo e mais uma vez, porém sério Hannow diz:
- Eu sei, velho estúpido, agora me dê duas garrafas do que você tem de mais forte.
O velho como que sob efeito de algum tipo de hipnose pega duas garrafas de uma cachaça empoeirada e com alguma coisa não identificável dentro e as coloca sobre o balcão, Hannow pega as garrafas e sai do bar sem nada dizer e segue pela rua sem nem contemplar o velho olhando confuso para as notas e moedas em cima do balcão.
Parando em frente a uma casa de parede de tijolos, alguns perfurados ao que pareciam ser buracos de bala enfeitados com mofo e algumas eventuais baratas que entravam e saíam daqueles orifícios Hannow dá alguns tapas num portão de zinco semi-enferrujado e espera alguns segundos, lá de dentro ele ouve alguém berrando:
- Quem é?
- Papai Noel, seu idiota, vim lhe dizer que você foi um bom garoto e te trouxe presentes. - Diz Hannow num tom alto como que para atravessar o fino portão.
- Não conheço meu pai e muito menos esse tal de Noel, e se você acha que eu sou um bom garoto ou é burro ou está armando algo, vá embora e me deixa em paz.- Uma voz lá de dentro responde em tom meio aborrecido.
- Vou ter que botar esse portão abaixo de novo ou você já reconheceu a minha voz?
Ouve-se um “tlac” no portão e ele fica entre aberto, da brecha pode-se ver um homem jovem e magro, vestindo apenas uma bermuda, suas duas pernas estão enfaixados e ele se apóia em uma muleta de metal enferrujada e gasta.
- Po cara o que você quer uma hora dessas? To meio ocupado aqui não é uma boa hora.

Ignorando totalmente o que o aleijado diz Hannow abre totalmente o portão e entra no recinto, uma casa tão feita quanto seu exterior, livros, revistas, cigarros e bebidas podem ser vistos em toda parte, uma TV velha ligada faz ruído no ambiente, um sofá velho e empoeirado é o único lugar cabível a um ser humano e nele Hannow senta e coloca duas garrafas no chão. Com um tom meio assustado e transtornado o aleijado senta num banco improvisado com o que parece ser restos de uma cadeira, apóia sua muleta na TV estica as pernas que agora se pode perceber estão enfaixadas e manchadas por um líquido amarronzado, algo como sangue ou água boricada, depois de soltar um suspiro ele olha pra Hannow e pergunta:

- Falaê Hannow, o que ta pegando, vir na minha casa a essa hora, tu sabe que eu não ando recebendo visitas, em especial a tua desde que aquilo aconteceu.- Ele diz olhando pras pernas enfaixadas.
Hannow acende um cigarro e coloca as duas garrafas juntas ao lado de seu pé, com tom sério ele olha pro aleijado e diz:
- Cara, não tenho tempo pra esse papinho melodramático, pensa bem se você não pode usar as pernas deveria estar agradecendo por ainda ter braços, já que não pode correr atrás das menininhas pelo menos ainda te sobrou alguma diversão. Então vamos ao que me trouxe aqui.
Hannow dá uma pausa e abre uma das garrafas e a oferece ao aleijado.
- Cara não to afim de beber, ainda to tomando antibióticos pras minhas pernas vai que isso corta o efeito.
Hannow faz uma cara de irritado e diz
- Bem eu vim aqui porque preciso falar com aquilo de novo, e você sabe que só quando você ta muito bêbado ele aparece, então que tal parar com o papo e cooperar com esse seu velho amigo?
Soltando uma risada que mais parecia com o guinchar de um porco o aleijado estica o braço em sinal de negação e no meio das risadas diz indignado:
- Você ta maluco? Olha as minhas pernas você acha que vou fazer aquilo de novo? Pode voltar por onde entrou, cara, se daquela vez com uma garrafa eu me arrependo até hoje quem dirá com dois, nem pensar.
Hannow dá uma risada sarcástica pegando a outra garrafa e em tom explicativo diz:
Você não entendeu mesmo, primeiro que eu não estou pedindo e segundo que você não vai beber duas garrafas essa segunda eu trouxe no caso de você se negar a obedecer. Ao terminar de ouvir o aleijado fazendo uma cara assustada balbucia a pergunta:

- Pe..peraí, como você vai usar a segunda garraf...
Antes que ele termine a frase Hannow já estava na sua frente estourando a garrafa de cachaça na cabeça do aleijado com tamanha força que ele voa ao chão ensopado com o líquido fedorento. Ainda em choque tentando proteger a cabeça ou procurando a fonte do sangramento seu magrelo corpo é deitado para o teto e ao olhar pra cima ele pode ver Hannow segurando metade da garrafa quebrada e dizendo calmamente:
- Você vai cooperar ou agora tenho que usar o que sobrou da garrafa?

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